3 perguntas para: Lua Barros, educadora parental, fala sobre o brincar
No mês das crianças, conversamos com Lua Barros, educadora parental, sobre o papel dessa profissão, a conexão entre pais e filhos e a importância do brincar – no desenvolvimento infantil e para toda a família. Confira o papo a seguir!
1. Qual o papel de um educador parental? Como funciona esse trabalho?
O educador parental é um profissional que dá suporte às famílias na observação dos conflitos e no apontamento de caminhos que caibam na dinâmica daquela família. Sempre brinco que seu papel é “atualizar o sistema operacional” das famílias, mostrando outras possibilidades e ajudando a entender o que cabe e o que não cabe naquela realidade.
O educador parental não traz verdades absolutas, “esse é o certo”. Acima de tudo, ele escuta e acolhe, e tem como horizonte de seu trabalho as relações respeitosas.
2. A expressão “criação com apego” tem aparecido em notícias e matérias. Como você entende esse conceito?
A “criação com apego” é uma leitura da Teoria do Apego, de John Bowlby. O contexto de surgimento dessa teoria foi a preocupação do governo inglês no pós-guerra com as crianças que lotavam os orfanatos: o que seria dessas figuras que cresceriam sem o pai e a mãe? John Bowlby e, depois, Mary Ainsworth, entenderam que a criança precisa sim de figuras do apego. Precisa ter figuras às quais ela se vincule para entender que o mundo é um lugar seguro.
Essa teoria, muito importante e muito bonita, ganhou a leitura mais recente da “criação com apego” como um modelo de relacionamento parental. Ao mesmo tempo que acho uma ideia muito importante, que tem base no cuidado, acho que precisamos atualizar um pouco o conceito para abrir a roda de vinculação da criança. Isso é importante para que outras pessoas se responsabilizem pela criança, além da mãe.
3. Muito se fala da importância do brincar na infância. Como isso pode ser encorajado?
Acho que a brincadeira é muito difícil para a grande maioria dos pais porque entrar em contato com a nossa própria infância pode ser doloroso. Entrar em contato com a falta de controle que a brincadeira pede, ou com a partilha do controle com a criança, pode ser desafiador. Por isso, acredito que tantos adultos determinem “eu não sei brincar”. Mas em algum lugar, a gente já soube brincar, né? Então é muito importante esse processo de entendimento sobre o brincar.
Ele não é bom apenas para a criança, para a elaboração de suas questões e de sua relação com o mundo. O brincar é um espaço de vinculação, de admiração, de amor, de afeto. Por isso, precisa ser encorajado por todo mundo: não apenas pelos pais, mas por toda a sociedade, inclusive pela escola. É preciso observar a brincadeira como algo importante.